Na busca de aumentar sua participação nas decisões da cooperativa de agricultores familiares da região onde vivem, um coletivo de mulheres decidiu somar forças formando o grupo Mulheres Organizadas em Busca de Igualdade (MOBI), em 2006.Apesar de estarem presentes na Cooperativa de Agricultores Familiares de Poço Fundo e Região (Coopfam) desde sua fundação, na década de 1990.
A participação das mulheres na tomada de decisões na Cooperativa de Agricultores Familiares de Poço Fundo e Região era limitada. Fundada na década de 90, a cooperativa não reconhecia o trabalho feminino na agricultura nem o trabalho doméstico como condição para que elas conseguissem o status de cooperadas.
A história do grupo começou quando uma das mulheres perdeu repentinamente seu esposo e teve que assumir a propriedade e a geração de renda da família. Enfrentando o desafio de conciliar o trabalho rural com o cuidado da casa e dos filhos, a trabalhadora uniu-se às amigas para que nenhuma delas estivesse sozinha na ocupação dos espaços da cooperativa.
Foi assim que começaram a se reunir de diferentes formas, convocando mais mulheres para trabalhar em atividades distintas, como a produção de doces, além de debates sobre a vida cotidiana de suas famílias. Atualmente, o grupo é formado por cerca de 30 mulheres, entre cooperadas e colaboradoras, que tem aberto portas para que outras mulheres entrem na Coopfam.
Depois da formalização do grupo, têm sido desenvolvidas atividades sobre empoderamento das mulheres, autonomia econômica, organização e o papel delas na agricultura familiar. O resultado é que hoje as mulheres ocupam espaços de tomada de decisão na cooperativa, como o Conselho Fiscal, a Mesa Diretora. Inclusive a presidência.
Oportunidades
Em 2012, a Coopfam lançou o Café Orgânico Feminino, uma linha de café para dar protagonismo e visibilidade às mulheres do Grupo MOBI que fazem agricultura orgânica.
Em 2014, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais (IFSULDEMINAS) promoveu um projeto para fortalecer a identidade do Grupo Mobi, por meio do qual as mulheres construíram seu regimento interno e realizaram cursos de artesanato voltados para geração de renda. Neste projeto, além das produtoras de café, participam artesãs que produzem peças sustentáveis a partir de subprodutos do café.
Em 2015, outro projeto do Instituto instalou estufas para a produção de rosas orgânicas nas propriedades das mulheres. Desde então, muitas têm dado continuidade às atividades, desenvolvendo produtos como licores de rosas, geleias e pudins como alternativa de renda.
Em 2018, a Coopfam também lançou um Café Feminino Sustentável para agregar as mulheres que se dedicam à produção de café convencional.
Em 2019, foi lançada a Certificação Participativa do Café Feminino, uma proposta que se baseia na metodologia do sistema participativo de garantia da qualidade orgânica, onde as mulheres visitam outras mulheres para trocar experiências e validar a participação feminina na produção do café, do plantio ao manejo da lavoura; pré-colheita, colheita e pós-colheita; gestão e comercialização.
Resultados
Por meio de seus projetos e ações, as mulheres envolvidas no grupo MOBI trazem benefícios para todas suas famílias e para a comunidade. Os projetos desenvolvidos para a geração de trabalho e renda contribuem para a prosperidade da economia familiar.
Trabalhando na proposta da agricultura orgânica, elas promovem a preservação do meio ambiente. Os espaços de formação e intercâmbio de experiências valorizam o conhecimento das mulheres e se aplicam nas práticas de cada propriedade rural.
Também se destacam os aspectos subjetivos da convivência com o coletivo. As mulheres reunidas em grupo são amigas, compartilham momentos de alegria, tristeza e dor. Mas, sobretudo, compartilham o desejo de mais reconhecimento de sua organização e maior participação feminina. É este o desejo da cafeicultora Rosinei Margarete Gonçalves, 42 anos.
“Sou produtora de café orgânico feminino, sou dona de casa. Eu vou para a lavoura e tenho todo o serviço da família para organizar em casa. Tem os dias de curso, viagens e reuniões que eu saio para fazer, mas tenho que programar todas as atividades; da lavoura, do serviço doméstico, para depois sair. Mulheres, vamos batalhar para valorizar o nosso trabalho”, declarou Rosinei.
Fonte: Colaboração Coopfam e FAO
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