Brasília, 07 de abril de 2019.
Relator: Rafael Menezes
Inovação Social, negócios de impacto e cadeias de valor: reflexão e aprendizado sobre o ecossistema de apoio, foi o tema do seminário realizado pelo Sebrae e PNUD, em Brasília, no dia 28 de março. O CEA se fez presente nesse seminário que debateu o papel das aceleradoras e ecossistemas de apoio no contexto Brasil, Portugal e Reino Unido, a partir de missões realizadas nos dois países, a experiência de aceleradoras brasileiras e estratégias de investimento em inovação social e negócios de impacto.
Entre os convidados, estavam representantes de organizações públicas e privadas parceiras do PNUD em projetos, como Sebrae, FGV, Ministério da Economia, Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), Yunus Brasil, BNDES, Caixa Econômica Federal, Deloitte e Instituto Humanize.
O seminário é uma das atividades da Iniciativa Incluir, lançada em 2015 pelo PNUD, para fortalecer o envolvimento privado no apoio aos esforços globais e locais para reduzir a pobreza e tornar o desenvolvimento mais inclusivo. “Essa é uma iniciativa que traz mais sustentabilidade e mecanismos para que as pessoas consigam sair da pobreza, para que as empresas inclusivas cresçam de maneira mais sustentável”, afirmou a representante residente assistente do PNUD, Maristela Baioni, na abertura das atividades.
Com foco na inovação em negócios, a Iniciativa Incluir busca estimular o aumento do fluxo de capital de impacto e oportunidades comerciais para negócios inclusivos, articular parcerias e facilitar espaços de diálogo para o desenvolvimento de políticas e fortalecer o conhecimento sobre o potencial dos mercados inclusivos.
O diretor técnico do Sebrae, Vinicius Lage, reforçou a importância dos empreendimentos inclusivos no combate às desigualdades. “Para toda grande revolução econômica, temos também uma inovação social. Devemos nos reinventar, porque a pobreza e a exclusão também são falhas de mercado e uma falha da sociedade”, defendeu.
A gerente de Parcerias para o Setor Privado do PNUD, Luciana Aguiar, finalizou o ciclo de debates apresentando a prévia do relatório Business+Brazil, resultado de cooperação entre Sebrae, Istanbul International Center for Private Sector in Development (IICPSD) e PNUD. O documento, em inglês, apresenta a situação dos negócios inclusivos no Brasil, dados e implicações políticas a partir de um olhar sobre as desigualdades.
Desde 2014, o SEBRAE inseriu na sua agenda estratégica de atuação, a temática dos negócios de impacto social e ambiental, como um dos eixos estratégicos de atendimento aos pequenos negócios e se empenharam em contribuir na geração de negócios com propósito e lucro, estimulando pessoas da base da pirâmide a serem sócias, parceiras ou mesmo fornecedoras de produtos e serviços para o negócio de impacto social e ambiental.
Novo modelo de empreendedorismo
Nosso mundo está sendo chamado para enfrentar questões sociais e ambientais urgentes enquanto enfreta uma ruptura significativa na governança e nas economias, levando a uma mudança transformadora do sistema financeiro. Acreditamos que o único caminho a seguir é unindo forças para construir um futuro onde os negócios e os lucros funcionem em apoio à pessoas e ao planeta.
As novas empresas que estão surgindo no mercado têm essas questões como uma inovação social.
O que é uma Inovação social?
A inovação social é um termo que se refere à novas estratégias, conceitos e organizações que atendem as necessidades sociais de todos tipos, das condições de trabalho e educação até desenvolvimento de comunidades e saúde, que desenvolvem e fortalecem a sociedade civil.
Empresa de impacto social
Empresas de impacto social e ambiental, de acordo com o SEBRAE, são negócios que buscam impacto social e ambiental positivo gerado através do próprio core busness do empreendimento, ou seja, a atividade principal deve beneficiar diretamente pessoas com faixa de renda mais baixas, as chamadas classes C, D, E, que de acordo com o IBGE em 2015 correspondem a 168 milhões de pessoas.
O Impacto acontece de inúmeras formas. Há os negócios de impacto social, que através dos produtos e serviços de suas empresas, melhoram a qualidade de vida de pessoas que estão na base da pirâmide da sociedade. Há também as startups, grande parte de tecnologia, que constroem soluções para o nosso dia-a-dia. Há ainda as empresas, fundos de investimentos, bancos, ONGs, freelancers, ativistas, organizações estudantis, pessoas. Ou seja, cada indivíduo tem à sua maneira particular de oferecer impacto e benefícios para o mundo e todas elas são bem-vindas e importantes para o desenvolvimento coletivo. Agora é a hora de promover ainda mais as pessoas e organizações que lideram grandes transformações.
A rede do Impact Hub já mobiliza mais de 80 iniciativas de espaços criativos de trabalho ao redor do mundo. Todos esses espaços só podem existir graças às conexões entre os membros da rede, que ao longo de quase dez anos, permitem que negócios sejam criados, ideias sejam desenvolvidas, e vidas sejam influenciadas. E isso só acontece graças ao poder da colaboração.
O que é o Impact Hub?
O Impact Hub é um ecossistema global de espaços, pessoas e ideias empreendedoras para inovação social em rede, conectadas e inovadoras, que juntos, crescem, aprimoram suas habilidades e desenvolvem modelos de negócios consistentes com as necessidades da sociedade e do planeta. É a maior plataforma de aceleração e de colaboração para as mudanças positivas com mais de 100 comunidades de impacto em cidades de todo o mundo.
O conceito de “The Hub” veio à tona trazendo changemakers (uma das vias mais rápidas para se alcançar a transformação social) juntamente com o espaço de trabalho, a comunidade e os eventos compartilhados necessário para avançar suas idéias e criar novas colaborações. Sabemos que o impacto não acontece de maneira isolada e que se realmente queremos um mundo radicalmente melhor, nossas ações precisarão acontecer em rede! Conscientes disso, essas ações foram divididas nas seguintes categorias:
My Impact: A mudança do mundo começa mudando a si mesmo. Aqui estarão artigos e histórias relacionadas à criação de uma vida com propósito e produtividade. Conteúdo sobre a manifestação do impacto pessoal, aprimoramento dos próprios talentos e dos relacionamentos.
Impact Business: Quais os negócios que estão transformando a sociedade? Essa categoria conterá assuntos relacionados à criação de negócios que mudam o mundo. Ou o mundo que muda os negócios.
Impact Network: O Impacto já está acontecendo! Felizmente, muitas pessoas e organizações estão comprometidas em criar um mundo radicalmente melhor. Essa categoria traz as boas notícias e histórias sobre o ecossistema de impacto social.
Impact Innovation: O que ainda pode ser feito? Nessa categoria, os materiais apresentam inovações e tendências para as organizações e a sociedade.
Impact Hub: O que acontece na rede do Impact Hub? A rede global do Hub é vasta em talentos e ações transformadoras.
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas — SEBRAE
Heloísa Menezes
O primeiro relatório mundial sobre empreendedores sociais, realizado pelo instituto de pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) em 2009, mostrou que quase 2% da população adulta está envolvida em alguma atividade social, em áreas que vão de educação e desenvolvimento econômico à preservação do meio ambiente. Uma minoria significativa lidera iniciativas sem fins lucrativos, seguindo preceitos de ferramentas de negócios, e muitos dos que ainda não trabalham nesse campo expressaram vontade de implementar projetos desse tipo em um futuro próximo.
Desde 2014, o SEBRAE inseriu na sua agenda estratégica de atuação, a temática dos negócios de impacto social e ambiental, como um dos eixos estratégicos de atendimento aos pequenos negócios. Estamos empenhados em contribuir na geração de negócios com propósito e lucro, estimulando pessoas da base da pirâmide a serem sócias, parceiras ou mesmo fornecedoras de produtos e serviços para o negócio de impacto social e ambiental.
Na 1ª Edição da Chamada INCLUIR 2017 – SEBRAE/PNUD mapearam 857 iniciativas empreendedoras que estão espalhadas pelo Brasil em diversos segmentos. A partir daí, com parceiros de todo ecossistema, o desafio é dar apoio contínuo na gestão desses modelos de negócios inovadores para que tenham acesso à capacitação, mentorias e investimentos, de forma sustentável.
Soma-se a relação dos negócios de impacto social com a Agenda 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável que são outro aspecto fundamental a nortear a nossa atuação, pois são esses modelos inovadores de impacto que têm plena aderência aos 17 desafios globais apresentados, com um campo fértil para o desenvolvimento de soluções inclusivas.
Os ODS com mais negócios atuando são o 3 (Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades); 4 (Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos) e 8 (Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos).
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento — PNUD
Didier Trebucq
Os desafios do desenvolvimento são cada vez mais interdependentes, afetam simultaneamente países do Norte e do Sul e evoluem em um ritmo cada vez mais rápido. Em 2030, estima-se que teremos 8,5 bilhões de habitantes no planeta, do quais aproximadamente 223 milhões de pessoas devem viver no Brasil. Para atender às demandas econômicas e sociais desta população, lidar com os efeitos de megatendências, como a inteligência artificial e a mobilidade, e preservar o meio ambiente, precisaremos de soluções audaciosas com inovações sociais e tecnológicas disruptivas.
Com capacidade de implementar, de se adaptar rapidamente e de inovar, os negócios de impacto social estão bem posicionados para encontrar novas soluções para alcançar os objetivos de desenvolvimento sustentável em 2030, uma agenda universal que, entre seus numerosos desafios, procura erradicar a pobreza extrema e a fome no mundo. Esta agenda apresenta oportunidades significativas para que os negócios abram novas novos mercados, atraindo investimentos, valendo-se das competências, expertises e recursos das empresas. Sua relevância também se coloca cada vez mais na agenda de investimento. Estima-se que aproximadamente 3 a 4 trilhões de dólares por ano são direcionados para esta agenda nos países em desenvolvimento.
O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento entende ser essencial adotar medidas de fomento a novos modelos de negócio que desenvolvem soluções acessíveis e escaláveis para responder a problemas concretos em serviços essenciais, bem como estratégias de negócio que estimulam, sobretudo, a inserção da mulher, da população negra, das minorias étnicas e dos jovens em suas cadeias de valor, ampliando sua participação no sistema econômico e nas esferas de cidadania.
O PNUD Brasil trabalha, em estreita colaboração com múltiplos parceiros em âmbito local, intensificando seu envolvimento com redes empresariais, empresas públicas e privadas, para alcançar áreas e comunidades onde o progresso tem sido mais lento, para tornar real o propósito de “não deixar ninguém para trás”. Reconhecemos que a parceria com o SEBRAE amplia e consolida ações, alinhadas em uma missão comum, capazes de potencializar iniciativas e atores propulsores do desenvolvimento sustentável, trabalhando, diariamente, para a construção de uma sociedade mais justa e mais equitativa.
Iniciativas de Aceleração de Negócios de Impacto
No Brasil as organizações de suporte ao desenvolvimento de negócios de impacto veem passando por um forte processo de expansão para apoiar os empreendedores.
O que é uma aceleradora de negócios e qual seu papel no ecossistema empreendedor
Simples ideias, em geral, têm grande potencial para se transformar em bons negócios. Muitas dessas ideias nascem com startups que começam a se desenvolver, normalmente, sem grandes investimentos ou times bem estruturados. Entretanto, algumas delas têm a chance de integrar uma aceleradora.
O que é uma aceleradora?
Aceleradoras são empresas que têm como objetivo principal apoiar, criar atalhos e investir no rápido desenvolvimento e crescimento de empresas nascentes. As jovens empresas instaladas dentro de uma aceleradora, em geral, têm acesso a mentorias, apoio financeiro e redes de contato, que incluem investidores e grandes empresas, e maior visibilidade na mídia.
No processo de desenvolvimento de uma empresa, o apoio das aceleradoras se dá, na maioria das vezes, desde o estágio inicial de validação da ideia até o produto mínimo viável (MVP). A partir daí, rumo a escalada do negócio, é quando o investimento para a aceleração é propriamente feito. As aceleradoras também ajudam as empresas emergentes a obter novas rodadas de investimento ou a atingir seu ponto de equilíbrio (break-even), estágio em que conseguem, com a receita gerada pelo negócio, pagar suas próprias contas.
A busca pelo desenvolvimento econômico e social baseado na inovação e nas políticas de desenvolvimento científico e tecnológico no Brasil teve início a partir de 2003, com as novas diretrizes da Política Industrial e Tecnológica e de 13 Comércio Exterior (PITCE) e com o Plano de Desenvolvimento da Produção. Tais iniciativas propõem a inovação como fator fundamental para que a indústria brasileira dê um salto de qualidade rumo à diferenciação de produtos e à transformação da estrutura industrial. (Vedovello et al., 2001)
A nova legislação para apoio aos programas de CT&I é constituída pelos Fundos Setoriais de Ciência e Tecnologia, pela “Lei de Inovação” (Lei nº 10.973/2004) e pela Lei de incentivos fiscais à inovação e à exportação (Lei nº 11.196/2005). Segundo Morais (2008), as alterações no marco legal têm por objetivo estimular processos mais intensivos de modernização tecnológica nas empresas e criar ambiente institucional favorável à cooperação entre os agentes públicos e o setor produtivo. A “Lei de Inovação” prevê ações de empreendedorismo tecnológico e de criação de ambientes de inovação, incluindo incubadoras de empresas e parques tecnológicos, por meio de parcerias entre órgãos públicos, empresas nacionais e organizações de direito privado sem fins lucrativos.
Dentro deste marco regulatório, está sendo implementado o Programa Nacional de Apoio a Incubadoras de Empresas (PNI), desde 1998. Com o objetivo de fomentar a contribuição das incubadoras para acelerar o processo de criação de micro e pequenas empresas de base tecnológica, o PNI tem investido no apoio às redes estaduais e regionais de incubadoras e em programas de capacitação de empreendedores (IPEA, 2011). Entre as organizações incubadoras, o Centro Incubador de Empresas Tecnológicas (Cietec) é a maior da América Latina, fundado na Universidade de São Paulo em 1998, totalizando 125 empresas associadas nas áreas de biomedicina, biotecnologia, energias alternativas, tecnologia da informação, novos materiais, telecomunicações e química. As incubadoras e as aceleradoras de empresas têm sido um importante ator no processo de criação e desenvolvimento de uma pequena empresa e de um 14 negócio social nascente, bem como um instrumento eficaz para aproximar os centros de pesquisa e as universidades das empresas da nova geração de empreendedores, mas ainda são muitos os obstáculos de ordem prática e legal para o bom funcionamento desse mecanismo. (IPEA, 2011)
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