O uso de biodigestores para produção de gás de cozinha e geração de energia elétrica se estende em pequenas propriedades na região mineira de Cabeceira Grande. Segundo o pioneiro José Lopes da Silva, conhecido Zé da Viola, em pouco mais de um ano um grupo de produtores já domina esta tecnologia batizada de Primobio (primeiro biodigestor sertanejo selado construído no Brasil). Selado porquê tem um selo d´água que evita vazamento ou perda de gás metano.
A tecnologia social inovadora está se espalhando – quatro biodigestores já estão prontos. O primeiro, construído em forma de mutirão, em maio de 2017, resulta da parceria entre o Centro de Estudos e Assessoria e a prefeitura de Cabeceira Grande (MG). O primeiro protótipo custou em torno de R$ 8 mil e foi montado durante um curso de 48 horas ministrado por técnicos do Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco. Hoje o custo estimado é de R$ 6 mil. “Daí resultou a tecnologia do primeiro biodigestor sertanejo selado construído no Brasil (BSS), no distrito de Palmital”, nos conta Zé da Viola.
Ele explica que foram feitas adaptações a fim de atender à necessidade local. 20 pessoas participaram do curso, mas apenas dois seguiram difundindo a técnica. Outra parceria fundamental ocorreu com o Laboratório Educacional de Tecnologia Social e Energias Renováreis (LETS) e o Centro de Educação Popular e Formação Social (CEFPS-PB).
Mais um biodigestor será inaugurado no próximo domingo (31), no distrito de Palmital de Minas (a 100 quilômetros de Brasília), outro já está montado na Escola Técnica de Natalândia, e estão garantidos recursos financeiros para a construção de outros em áreas de assentamento. A intenção, em médio prazo, é manter um fundo rotativo para construir um biodigestor/mês. “O fundo garante o recurso para a compra do material e se constrói no esquema do mutirão”, explica Zé da Viola.
Servidor público atuando na área social, Zé da Viola considera motivo de orgulho participar dos projetos desde o início. “O produtor se orgulha de produzir o próprio gás usando dejetos de animais”, afirma. Para ele, o retorno é maravilhoso. “A gente está contribuindo com o meio ambiente, num projeto inovador que traz inúmeros benefícios”.
O sonho é replicar os modelos, intensificar a divulgação para que outros municípios possam conhecer e ‘abraçar’ a ideia. Hoje, 20 produtores da agricultura familiar participam deste projeto de tecnologia social. 120 são diretamente beneficiados. Aqueles indiretamente beneficiados ainda não é possível mensurar, pois muitos recebem o biofertilizante e biomassa, ricos em matéria prima que fertiliza a terra.
Economia – O biodigestor transforma os dejetos em gás e também produz biofertilizante – um subproduto sem cheiro, sem proliferação de insetos, usado como adubo em hortas e pequenas lavouras. O entusiasmo pelo uso da tecnologia é grande, principalmente pelo baixo custo e economia gerada. O produtor que dispõe desta tecnologia diminui despesas com compra de gás, transporte, conta de energia elétrica e fertilizantes. Também dispensa a extração de madeira verde para futura produção de lenha.
“É preciso ‘lenhar o verde’ a fim de garantir lenha seca para daí a 3, 4 meses e isso é grande preocupação do produtor para não faltar”, explica Zé da Viola. O uso do biodigestor permite o destino correto e sustentável dos dejetos animais – de gado, suíno, de galinhas e outros, produzido nas propriedades da agricultura familiar, em especial produtores de leite.
É uma opção de aproveitamento da energia renovável (ER) de ótimo rendimento – diminui custo com gás, energia elétrica externa, proporcionando energia limpa e aproveitamento de subprodutos, a exemplo o biofertilizante que pode ser usado em horas, lavoura, pomares e hortas, favorecendo assim a produção agroecológica orgânica e sustentável.
O gás pode ser usado em chocadeiras, caldeiras, secagem de mandioca, preparo de doces, rapaduras entre outras infinitas atividades. Daí justificar até mesmo o nome Projeto Inovar – biodigestores renovando energia, cidadania e solidariedade. Clique nas fotos para ampliar.
Comment
ROBERTO LOPES CARVALHO
Sou produtor rural e gostaria muito que esse projeto chegasse na minha comunidade pois tenho certeza que teriam que fazer mais de 300 desses por aqui e muito bom para nossas plantação porque não agredir o meio ambiente.